Vinte e Tantos.

Agora aos 29, já não enxergo mais o mundo como quando tinha 22. Ainda bem, e afirmo com toda a certeza: ter vinte e tantos anos é muito melhor do que ter vinte e poucos anos.
Com vinte e tantos, já não somos tão ansiosos e impetuosos quanto antes, ainda que um pouco, mas muito menos que antes. Geralmente já conquistamos alguma coisinha ou outra da qual podemos nos orgulhar. Temos confiança no nosso taco e já não somos tão franco-atiradores – mas ainda temos energia para a ousadia. Já provamos para nós mesmos que somos capazes de sair da casa dos pais e cuidar da nossa própria. Com 20 e tantos, já não precisamos morar em um muquifo ou em uma república com mais dez, porque ganhamos mais do que R$ 600 + vale transporte, e isso já pode ser em uma menor proporção.
Aprendemos a selecionar melhor nossos amigos e dar todo o valor a eles. Já sentimos a energia negativa dos truqueiros de primeira, algo que talvez aos vinte e poucos estivéssemos embriagados demais para perceber. Respeitamos mais os pais e aproveitamos todos os segundos em família, com a chegada dos sobrinhos e os filhos dos primos. Os pais já não enchem mais tanto o nosso saco tentando proibir, mas ainda se preocupam em nos acolher quando estamos estressados, doentes, trabalhando demais, ou de coração partido.
Aprendemos que não somos capazes de mudar o mundo, ou as pessoas, e que sofrer por isso não nos leva a lugar algum, a não ser em fazer mal a nós mesmos, pois isso suga uma energia sabe? 
Ah, o amor, com vinte e tantos, se não te ligam no dia seguinte, foda-se. Já temos amor próprio e a certeza de que se a gente quiser, a fila voa. Só se quiser mesmo, porque a maturidade tira o desasossego e nos ensina a se aceitar e ficar tranquilo solteiro, e às vezes melhor sozinho, porque dá muito trabalho ficar de papo furado, e geralmente aos vinte e tantos , você já não tem tempo pra "perder tempo".
Passamos a evitar os programas que vão ser uma baita de uma função, que na época da faculdade a gente só ia porque precisava se enturmar. Escolhemos melhor nossas viagens e principalmente nossas companhias de viagens. Ao invés de querer visitar cinco países na Europa em dez dias, escolhemos um só lugar e ficamos quinze dias explorando cada cantinho da cidade. Cultivamos o hábito de comprar coisas para a nossa casa, que começa a ser o nosso templo. Bebemos mais água,  e nosso corpo funciona melhor.  Com vinte e tantos anos, a gente só quer do nosso lado gente que nos agrega. Amor, amizade, ou os dois. Que te indica um filme, que te leva pra conhecer um lugar novo,  que tem as melhores dicas de viagens, que te escuta. Porque você também é essa pessoa que faz tudo por seus amores e amizades.
Você começa a se dar conta de que seu círculo de amigos é menor do que há alguns anos. Dá-se conta de que é cada vez mais difícil vê-los e organizar horários por diferentes questões: trabalho, estudo, namorado(a) etc. E cada vez desfruta mais dessa cervejinha que serve como desculpa para conversar um pouco. As multidões já não são ‘tão divertidas’, às vezes até te incomodam.
Mas começa a se dar conta de que enquanto alguns eram verdadeiros amigos, outros não eram tão especiais depois de tudo. Você começa a perceber que algumas pessoas são egoístas e que, talvez, esses amigos que você acreditava serem próximos não são exatamente as melhores pessoas. Ri com mais vontade, mas chora com menos lágrimas e mais dor. Partem seu coração e você se pergunta como essa pessoa que amou tanto , pôde lhe fazer tanto mal. Parece que todos que você conhece já estão namorando há anos e alguns começam a se casar, e isso assusta!
Sair três vezes por final de semana lhe deixa esgotado e significa muito dinheiro para seu pequeno salário. Olha para o seu trabalho e, talvez, não esteja nem perto do que pensava que estaria fazendo. Ou, talvez, esteja procurando algum trabalho e pensa que tem que começar de baixo e isso lhe dá um pouco de medo.
Dia a dia, você trata de começar a se entender, sobre o que quer e o que não quer. Suas opiniões se tornam mais fortes. Vê o que os outros estão fazendo e se encontra julgando um pouco mais do que o normal, porque, de repente, você tem certos laços em sua vida e adiciona coisas a sua lista do que é aceitável e do que não é. Às vezes, você se sente genial e invencível, outras, apenas com medo e confuso.
De repente, você trata de se obstinar ao passado, mas se dá conta de que o passado se distancia mais e que não há outra opção a não ser continuar avançando. Você se preocupa com o futuro, dinheiro e com o construir uma vida para você. E enquanto ganhar a carreira seria grandioso, você não queria estar competindo nela.
O que, talvez, você não se dê conta, é que todos que estamos lendo esse texto nos identificamos com ele. Todos nós que temos ‘vinte e tantos’ e  algumas vezes gostaríamos de voltar aos 15-16, mas na maioria não. Parece ser um lugar instável, um caminho de passagem, uma bagunça na cabeça, mas TODOS dizem que é a melhor época de nossas vidas e não temos que deixar de aproveitá-la por causa dos nossos medos. Dizem que esse tempo é o cimento do nosso futuro. Parece que foi ontem que tínhamos 15, então, amanhã teremos 30. Assim tão rápido, mas olhando bem , jamais voltaria aos 15, estar nos vinte e tantos me fez e faz muito melhor.

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